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Uma em cada oito pessoas vive com obesidade no mundo

Taxa de crianças e adolescentes com excesso de peso quadruplicou entre 1990 e 2022, de acordo com estudo publicado na revista The Lancet

Uma nova análise global revela um cenário preocupante sobre a obesidade no planeta. O número total de indivíduos que vivem com essa condição ultrapassou a marca de um bilhão, segundo um estudo inédito publicado no periódico científico The Lancet.

Nas crianças e nos adolescentes de 5 a 19 anos, a taxa de obesidade quadruplicou entre 1990 e 2022, o ano da última coleta de informações. Já entre os adultos, o índice mais do que duplicou entre as mulheres e quase triplicou entre os homens.

Em números absolutos, o levantamento aponta que 159 milhões de crianças e adolescentes e 879 milhões de adultos apresentavam obesidade em 2022.

“A causa da obesidade é multifatorial, incluindo componentes genéticos, ambientais, medicamentos, hormonais e alteração de flora intestinal. A provável explicação para o aumento do número de casos também é diversa. Fatores que contribuem incluem piora do sedentarismo, aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, maior exposição a substâncias associadas ao problema, piora do padrão do sono e aumento da ansiedade”, afirma a médica endocrinologista Paula Fabrega, do Hospital Sírio-Libanês em Brasília.

Os especialistas alertam que a obesidade superou, na quantidade de pessoas afetadas, o baixo peso, que também foi abordado na pesquisa.

Apesar do crescimento da população mundial, 183 milhões de mulheres e 164 milhões de homens foram afetados por baixo peso em 2022, 45 milhões e 48 milhões a menos, respectivamente, do que em 1990.

“Estratégias de reeducação alimentar e atividade física são fundamentais para a prevenção da obesidade e suas complicações, mas podem ser insuficientes. Nesses casos, tratamentos com medicações ou cirurgia são uma opção”, destaca Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

O novo estudo foi conduzido pela NCD Risk Factor Collaboration (NCD-RisC), em colaboração com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A pesquisa

Para chegar aos resultados, os pesquisadores avaliaram medidas de peso e altura de mais de 220 milhões de pessoas a partir de 5 anos de idade. Foram pelo menos 63 milhões de crianças e adolescentes até 19 anos e outros 158 milhões com 20 anos ou mais.

A partir daí, os mais de 1 500 especialistas que participaram do levantamento classificaram essas pessoas de acordo com o índice de massa corporal (IMC) para desvendar como a obesidade e o baixo peso mudaram ao longo de mais de 30 anos. E, então, usaram cálculos estatísticos para ampliar esses achados para a população global como um todo.

Os adultos foram classificados como obesos se apresentassem IMC maior ou igual a 30 kg/m². Já a indicação de baixo peso considerou IMC inferior a 18,5 kg/m².

Para os mais novos, os critérios foram ligeiramente diferentes. Entre crianças e adolescentes, o IMC utilizado para definir obesidade e baixo peso depende de fatores como idade e sexo, devido ao aumento significativo de altura e peso durante essa fase da vida.

O que diz a balança
dos jovens

Segundo os novos cálculos, o número total de crianças e jovens afetados pela obesidade foi de quase 160 milhões em 2022 em comparação com 31 milhões em 1990.

Por outro lado, foi identificada uma redução de casos de baixo peso na infância e adolescência. Em 1990, os números eram de 81 milhões para meninas e de 138 milhões de meninos com magreza excessiva. Já em 2022, os indicadores caíram para 77 milhões entre elas e 108 milhões entre eles.

Ricardo Cohen, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, destaca que obesidade pode resultar em uma série de riscos para a saúde de crianças e jovens, incluindo na esfera emocional. O quadro também favorece probemas de longo prazo, como diabetes e hipertensão.

“É importante adotar um estilo de vida saudável desde a infância para prevenir a obesidade e seus potenciais riscos”, diz Cohen.

No que diz respeito às taxas globais de obesidade entre essa população mais nova, os índices foram de 1,7% para 6,9% entre as meninas e de 2,1% para 9,3% entre os rapazes, dependendo da região e da nação. Vale destacar que os aumentos foram observados em quase todos os países.

A tendência identificada no estudo da The Lancet vai ao encontro dos resultados de uma pesquisa realizada recentemente no Brasil, a Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia).

O levantamento, conduzido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com a organização global de saúde pública Vital Strategies, aponta para um aumento de jovens de 18 a 24 anos com obesidade no país.

Segundo o estudo, 9% da população nessa faixa de idade apresentava IMC igual ou maior que 30 kg/cm² em 2023 (um aumento de 17,1% com relação ao ano anterior). Ao todo, foram ouvidas 9 mil pessoas, de todas as regiões.

Problema também afeta
os adultos

Entre as pessoas com 20 anos ou mais, as taxas de obesidade mais que duplicaram entre as mulheres (de 8,8% para 18,5%) e quase triplicaram nos homens (de 4,8% para 14,0%) entre 1990 e 2022. Já a proporção de adultos com baixo peso caiu para metade entre 1990 e 2022 (14,5% para 7,0% nas mulheres; 13,7% a 6,2% nos homens).

O cenário brasileiro também se assemelha aos resultados globais. O estudo da UFPel destaca que 56,8% dos brasileiros vivem com excesso de peso – uma soma de pessoas com sobrepeso e com obesidade.

Os indicadores são ainda mais críticos entre indivíduos de 45 a 54 anos, cuja taxa chega a 68,5%. Já entre os mais novos, de 18 a 24 anos, o problema afeta 40,3% dessa população.

Alerta

Mais de 4 bilhões de pessoas viverão com obesidade ou estarão acima do peso no mundo até 2035, de acordo com estimativas da Federação Mundial da Obesidade.

Em relatório publicado no ano passado, a entidade cobra ações urgentes e o desenvolvimento de políticas públicas na área. Lidar com o excesso de peso requer o envolvimento de diversos setores da sociedade, incluindo escolas, famílias, comunidades, além de gestores de saúde.

FONTE: saude.abril.com.br

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