5 pontos para entender a relação entre ultraprocessados e doenças crônicas
Revisão sistemática associou produtos industrializados a 32 problemas de saúde; entenda como esses itens prejudicam nosso bem-estar
O consumo de alimentos ultraprocessados está associado a 32 problemas de saúde, segundo a maior revisão sistemática já feita sobre o tema. Uma equipe internacional de pesquisadores avaliou de mais de 40 meta-análises que relacionaram esses produtos a efeitos adversos à nossa sanidade — física e mental.
Entre os achados, destaca-se um risco 50% maior para mortes por doenças cardiovasculares, até 53% a mais de desenvolver transtornos mentais (como ansiedade) e 12% de desenvolver diabetes tipo 2. Problemas pulmonares, câncer e morte precoce são outras condições ligada ao consumo de ultraprocessados. O artigo foi publicado em fevereiro na revista científica The BJM.
A seguir, entenda melhor por que o consumo de ultraprocessados em excesso é um problema de saúde pública.
1. Baixa qualidade nutricional
Este é o principal problema dos ultraprocessados. “Eles têm uma grande quantidade de açúcar, sódio, gorduras trans e saturadas, o que pode aumentar o risco de doenças crônicas”, resume Scheine Canhada, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Os ultraprocessados são produtos alimentícios que tem uma grande presença de aditivos (emulsificantes, adoçantes, aromatizantes, corantes etc) e conservantes na sua composição, a fim de estender o prazo de validade e acentuar seu sabor, aroma ou cor.
Em geral, não apresentam quantidades satisfatórias de proteínas, vitaminas e gorduras “boas”, que podem ser encontradas com alimentos como frutas, legumes, verduras, peixes e carnes. Logo, comer esses produtos em excesso pode acarretar deficiências nutricionais.
2. Aumento do risco de síndrome metabólica
Um dos problemas de saúde associados ao consumo excessivo de ultraprocessados é a síndrome metabólica.
Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a condição é confirmada diante do conjunto de ao menos três desses cinco diagnósticos:
• Obesidade central (medida pela circunferência da cintura)
• Diabetes
• Altas taxas de triglicérides
• LDL (o “colesterol ruim”) elevado baixo HDL (“colesterol bom”).
Uma análise derivada do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa), que há 15 anos acompanha o estado físico de 15 mil brasileiros, observou que aqueles que consomem muitos ultraprocessados (mais de 550 gramas por dia), comparados com quem tem uma ingestão menor (abaixo de 234 gramas por dia), têm um risco 19% maior de síndrome metabólica.
“Outros estudos do Elsa relacionaram o consumo de ultraprocessados ao ganho de peso e ao diabetes. Essas condições, por sua vez, nos predispõem a diversas doenças cardiovasculares, que são a maior causa de morte em todo o mundo”, explica Canhada, coautora da análise.
Segundo a pesquisadora, os ultraprocessados contribuem para o desenvolvimento dessas enfermidades por serem ricos em gorduras e açúcar e pobres em nutrientes.
3. Uma tendência histórica
O consumo de ultraprocessados têm se disseminado há muitas décadas, o que tem permitido aos cientistas observar os efeitos da ingestão a longo prazo. Em países desenvolvidos, o boom desse alimentos se deu no pós-Segunda Guerra Mundial.
“Nos anos 1950, esses produtos já constituíam boa parte da dieta de populações de países ricos”, contextualiza Rafael Claro, nutricionista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Era uma proposta de lidar com problemas na cadeia de produção e distribuição de alimentos de forma conveniente também ao modo de vida das grandes metrópoles.”
Em países em desenvolvimento, como o Brasil, a aderência a esses produtos passou a ser mais frequente a partir da década de 1980, principalmente entre as classes mais altas. Hoje, os alimentos ultraprocessados podem ser encontrados no mantimento de qualquer casa — em especial nas periferias.
É o que aponta um estudo publicado em fevereiro por pesquisadoras da UFMG. Segundo o levantamento, pessoas de classes sociais mais baixas tendem a comer mais produtos ultraprocessados por serem baratos em comparação aos alimentos naturais e minimamente processados. A falta de informação sobre opções alimentares mais saudáveis também prejudica mudanças na dieta da maior parte da população.
“São necessários programas e políticas públicas que incentivem a abertura de feiras de orgânicos e outros tipos de estabelecimentos que ofertam alimentos in natura e minimamente processados que adotem modelos de produção sustentáveis em áreas de favelas, a fim de reduzir as iniquidades de acesso aos alimentos saudáveis e sustentáveis nesse território”, concluem, no artigo, as autoras.
4. Prejuízos aparentemente distantes
Os malefícios da adoção de uma dieta pobre em nutrientes — mas rica em açúcares, gorduras e aditivos que satisfazem rapidamente nosso paladar — podem não ser imediatos e nem comprometerem o bem-estar geral das pessoas de pronto. Mas, a longo prazo, a história é outra.
O ganho de peso costuma ser apenas a ponta de um iceberg de doenças crônicas não transmissíveis associadas ao consumo de ultraprocessados, como diabetes, hipertensão, colesterol alto e obesidade.
Para combater essa tendência, é preciso pensar no futuro e refletir como mudar hábitos para que a população envelheça com saúde.
“Elaborar políticas de acesso à alimentação saudável e digna é essencial para resolver problemas que vão desde a desnutrição até a alta incidência de doenças crônicas, que sobrecarregam os sistemas de saúde”, avalia Canhada.
5. Pouca regulamentação
Para ajudar na identificação de alimentos com adição de açúcar, sódio e gorduras saturadas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu um novo padrão de rótulo que sinaliza facilmente ao consumidor o que há de excesso nos alimentos. Isso facilita a tomada de decisão nos supermercados, ajudando a população a optar pela redução e substituição de ultraprocessados.
Para maiores avanços, porém, outras iniciativas são necessárias. “É preciso que haja uma maior taxação desses produtos, e também há um longo trabalho de valorização dos nossos alimentos in natura“, sugere Claro. “Precisamos inclusive incluir essa pauta nas escolas, para que as novas gerações e suas famílias tenham maior acesso a informação e consciência sobre o tema.”
FONTE: saude.abril.com.br
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