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E agora, podemos comer gordura?

O cardiologista Daniel Magnoni esclarece as interpretações equivocadas e apressadas sobre o estudo PURE, que teria ‘liberado’ a ingesta de gordura.

O estudo observacional PURE publicou em agosto de 2017 no periódico The Lancet os resultados do acompanhamento de mais de 130.000 indivíduos em relação à associação entre consumo de carboidratos e gorduras e doença cardiovascular, mortalidade cardiovascular e mortalidade total.

Os resultados mostram que dietas com alto teor de carboidratos estão associadas diretamente com mortalidade total e mortalidade por causas não cardiovasculares, ao passo que a ingestão de gorduras totais e ácidos graxos saturados foi associada ao menor risco de mortalidade total, mortalidade por doenças não cardiovasculares e acidente vascular cerebral.

Carboidratos = fonte de energia

Os carboidratos são a principal fonte de energia para humanos e estão amplamente distribuídos nos alimentos de origem vegetal como tubérculos, leguminosas, cereais e frutas, bem como no leite, na forma de lactose. Os carboidratos também são consumidos na forma de açúcares simples (exemplo: sacarose e xarope de milho) por meio da ingestão de refrigerantes, sucos de frutas adoçados e/ou concentrados e em demais alimentos processados pela indústria. Além disso, são amplamente utilizados em alimentos preparados nos domicílios utilizando açúcar refinado em receitas como bolos, biscoitos, sobremesas, sucos, pães doces, entre outros.

Há muitos anos, é reconhecido que o consumo de carboidratos simples e o consumo excessivo de carboidratos complexos se associam à elevação da inflamação de baixo grau, aumento do peso, elevação plasmática de dos triglicérides, aumento da pressão arterial sistêmica que são sabidamente condições associadas ao aumento do risco cardiovascular.

O que disse o estudo

O estudo PURE confirmou:

(1) o consumo excessivo de carboidratos na dieta (>60%), proveniente de arroz polido e pão branco, associa-se ao aumento da mortalidade; e que

(2) nenhum benefício à saúde humana é obtido com dietas pobres em carboidratos (<50%), como por exemplo, dietas “lowcarb”, indicando que dietas cardioprotetoras devam conter alimentos fonte de carboidratos em proporções adequadas priorizando fontes integrais.

Recomendações da  Sociedade Brasileira de Cardiologia

De tal forma, a Sociedade Brasileira de Cardiologia coloca, em suas recomendações explicitadas pela Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemia e Prevenção da Aterosclerose, ano 2017, destacando que, para indivíduos portadores de hipertrigliceridemia grave, com deficiência de lipoproteína lípase, recomenda-se consumo reduzido de gorduras totais na dieta; Para indivíduos portadores de hipertrigliceridemia secundária ao diabetes, obesidade e outras causas, a recomendação é a de manter quantidades menores de carboidratos e para portadores de hiperquilomicronemia (doença rara associada a níveis sanguíneos de triglicérides >1000 mg/dL), recomenda-se restrição significativa de gorduras.

Já, para indivíduos que apresentam elevação de LDL-C ( colesterol ruim), é mandatória a redução do consumo de ácidos graxos saturados (gordura animal) e exclusão do consumo de ácidos graxos trans obtidos pela hidrogenação de óleos vegetais, que apresentam efeito superior ao colesterol dietético na elevação da colesterolemia.

Equilíbrio é a palavra-chave

No caso de programas de alimentação com objetivo de prevenir doenças cardiovasculares, recomenda-se balanceamento global de macronutrientes, respeitando as necessidades energéticas individuais, por meio da oferta moderada de carboidratos e gorduras totais, com restrição menos severa de ácidos graxos saturados em relação aos indivíduos portadores de dislipidemia.

Devem-se priorizar alimentos fonte de ácidos graxos monoinsaturados, além de uma oferta controlada, porém indispensável de ácidos graxos poli-insaturados. Recomenda-se a exclusão de alimentos que contenham ácidos graxos trans obtidos pela hidrogenação de óleos vegetais e oferta diária de fibras alimentares de 25 gramas, sendo 6 gramas de fibras solúveis.

Dessa forma, desaconselhamos o seguimento de dietas radicais de qualquer natureza, que exclua alimentos ou grupo de alimentos, bem como, a inclusão de alimentos que isoladamente possam ser recomendados com a finalidade de prevenção ou tratamento de doenças.

FONTE: veja.abril.com.br

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