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As diretrizes atuais contra a hipertensão e as medidas preventivas

Especialista mostra por que é importante manter-se ativo durante a crise da Covid-19, como alcançar esse objetivo e de que maneira seguir assim

A maioria dos malefícios do sedentarismo são conhecidos da população: aumento de peso, doenças cardiovasculares como infarto e AVC, diabetes tipo 2, apneia do sono… A “novidade” da pandemia é que essas comorbidades podem catapultar um paciente acometido pela Covid-19 para um estágio mais grave. Isso nos faz associar a falta de atividade física com maiores complicações e pior prognóstico da infecção pelo novo coronavírus.

Um estudo francês evidenciou que a necessidade de ventilação mecânica invasiva foi maior em pacientes com índice de massa corporal (IMC) elevado – uma das consequências da falta de mobilidade – chegando a 85,7% nos pacientes com Covid-19 e IMC igual ou superior 35. Além disso, o risco de hospitalizações foi 32% maior para pessoas fisicamente inativas. O trabalho está citado na revista científica da SOCESP inteiramente voltada para a relação da Covid-19 com as doenças cardiovasculares.

O combate a uma doença sobre a qual a ciência ainda conhece pouco requer medidas que defendam nosso corpo. E a atividade física regular pode ser uma aliada.

Porém, um estudo divulgado em janeiro de 2021 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) confirma que o brasileiro se exercita menos do que deveria. O levantamento aponta que, nos últimos 15 anos, praticamente um em cada dois adultos (47%) no Brasil não faz atividades físicas suficientemente.

No contexto promovido pela pandemia, esse cenário poderia ser ampliado, alcançando até aqueles que se mantinham ativos antes das restrições sanitárias. Espaços limitados nas residências, o desigual acesso à internet para aulas online e o contato restrito com professores de educação física são alguns dos fatores que justificariam a descontinuidade dos treinos.

Mas uma pesquisa brasileira realizada com 16 mil pessoas contraria – ainda bem – essa tendência, mostrando que o percentual de praticantes pré-pandemia não mudou muito. Utilizando um questionário online disseminado por redes sociais no ano passado, a apuração identificou que 40% dos entrevistados estavam fazendo algum exercício durante a quarentena. O fato de os números desse levantamento “baterem” com o da pesquisa da OMS não é à toa: podemos pensar que grande parte daqueles que se exercitavam regularmente procuraram algum meio de se manterem ativos.

Sempre dá para começar

A qualquer momento e independentemente da idade, a adoção de hábitos saudáveis tende a trazer longevidade e qualidade de vida. Quanto maior o nível de atividade física, maior o efeito protetor sobre eventos cardiovasculares e mortalidade. Além da melhora na função cardiovascular e imunológica, exercitar-se contribui com a saúde mental, ajudando a reduzir sentimentos como estresse e ansiedade, comuns em tempos de isolamento social.

No Brasil, ainda há poucas políticas públicas com oferta de programas para práticas físicas, o que restringe o alcance de profissionais habilitados entre as populações carentes. O mais devastador é que essas iniciativas não teriam um peso tão significativo no orçamento de governos e prefeituras, quando comparado ao custo financeiro e social de cuidar das sequelas do sedentarismo. A oferta de programas sérios e gratuitos de atividades físicas em parques e clubes, por exemplo, fatalmente fariam os índices de sedentarismo no país diminuírem.

Mover-se

Segundo as Diretrizes do Colégio Americano de Medicina Esportiva, para indivíduos saudáveis, é recomendado de 150 a 300 minutos por semana de exercícios aeróbicos, de intensidade moderada, e duas sessões semanais de treinamento de força muscular. Lembrando que iniciantes sempre devem começar por práticas mais leves.

Para controlar o seu ritmo de forma simples, pense assim: intensidade moderada é quando conseguimos conversar construindo frases completas, sem interrompê-las para buscar oxigênio. Já quando a atividade física é intensa, interrompemos seguidamente a fala para tomar fôlego. Mas não se esqueça: qualquer sinal de desconforto (dores no peito, falta de ar e dores articulares, por exemplo) irá requerer orientação médica.

Abaixo, deixei algumas dicas simples de exercícios aeróbicos, que podem ser feitos em ambiente interno:

  • Coloque uma música e ande rapidamente pela casa ou suba e desça as escadas por 10 a 15 minutos, duas ou três vezes ao dia;
  • Dance do seu jeito, ao som da sua música favorita;
  • Caso não tenha problemas nas articulações, pule corda;
  • Utilize esteira ou bicicleta ergométrica, quando disponíveis na residência ou no condomínio;
  • Pratique ioga para reduzir a ansiedade. Se ficamos menos ansiosos, comemos menos também;
  • Tarefas cotidianas são excelentes alternativas para manter-se fisicamente ativo: varrer a casa, arrumar o jardim, cuidar da horta, lavar louça, arrumar armários e brincar com animais de estimação, entre outras.

Já os exercícios de força devem ser feitos sempre atentando para as limitações (problemas no joelho ou na coluna, por exemplo). Para seguir essa rotina mesmo sem frequentar um centro de treinamento, é possível baixar aplicativos no celular e acompanhar as dicas oferecidas por professores de educação física. Atenção: busque apenas serviços de profissionais gabaritados.

A Covid-19 está nos obrigando a repensar hábitos. De certa forma, o momento é propício para reajustarmos rotas, perseverando com novas escolhas saudáveis. O exercício é uma ferramenta para mudarmos nossa história para melhor. Como disse a psicóloga do esporte Patricia Cassol Eickhoff, “(…) transforme a atividade física em um vício, que ele lhe dará habilidades para vencer outros.”

*Tiago Fernandes é diretor executivo do Departamento de Educação da SOCESP e professor da Escola de Educação Física e Esporte da USP

Fonte: veja.abril.com.br

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